30 de setembro de 2009

DN 30/09/99


1 comentário:

Anónimo disse...

Espreitar este testemunho:

Francisco Curado em 7 de Junho de 2011 19:40

Escrevi há dias este texto para uns amigos meus, a propósito daquilo que se estava a passar em Madrid, na Puerta del Sol. Parece-me que também virá a propósito do que se passou no Rossio, em Lisboa.

Ontem eu ouvia na rádio (Antena1, que afinal pagamos) um comentador (que parecia ter algum crédito naquela rádio) dizer que este tipo de manifestações são “perigosas” para a democracia. E o jornalista não comentou. Fiquei preocupado com o meu QI, muito preocupado, porque havia algo que me estava a escapar, algo que eu não percebia. A sério, no contexto mundial actual, aquele comentador fez-me sentir burro …

Eu lembrei-me, com pena, de não ter tido a oportunidade de viver o dia histórico do 25 de Abril, mas lembro-me de ter vivido um momento histórico neste país, quando milhões de portugueses se juntaram para reivindicar uma coisa que não tinha nada a ver com o nosso bem-estar, a nossa economia, ou a nossa política, nem sequer era para nós. Pedíamos apenas que devolvessem a Liberdade a Timor-Leste.
E não foram as enormes manifestações de rua que mais me impressionaram; foram as manifestações silenciosas nocturnas. Durante várias noites muitos de nós não conseguiam ficar em casa, indiferentes. Já se sabia que se saísse para a rua, só se voltaria a casa a altas horas da manhã e que no dia seguinte iria custar muito levantar para ir trabalhar. Mas eu não conseguia ir dormir. Pairava no ar um sentimento de que algo de novo estava em curso, de que algo poderia mudar e não era possível ficar indiferente.
Num dos pontos de encontro nas ruas de Lisboa onde nos reuníamos, havia algumas caras conhecidas, mediáticas. Em geral não se falava. Éramos poucos, talvez uma dúzia de pessoas. Cada um estava ali em silêncio a deixar o seu testemunho discreto, a marcar presença, simplesmente. A solidariedade era implícita, silenciosa. Curiosamente nunca tive sono; acho que era da raiva, ou da tristeza! Enquanto os dirigentes políticos mundiais e as Nações Unidas pesavam os interesses em jogo e discutiam se deviam fazer alguma coisa por um povo de um país minúsculo que era massacrado por uma potência regional como a Indonésia, ali nas ruas olhávamos para as velas acesas, durante horas, como se estivéssemos a velar moribundos (e na verdade era quase essa a realidade). Alguns deixavam poemas, amuletos, símbolos de todo o tipo. Foram dias inesquecíveis, em que algo mudou. E o que de mais importante mudou, não foi apenas a independência de Timor-Leste. Acho que aquilo que realmente mudou foi algo chamado Consciência.

Acredito que sempre que estes eventos ocorrem, acontece também uma mudança da consciência individual e global que nos vai levando a novos patamares.
Os defensores da chamada “democracia representativa” não precisam de ficar preocupados, porque isto não vai fazer a democracia cair nas ruas. O que historicamente cai nas ruas são as ditaduras. Mas talvez estejamos a chegar a um novo patamar em que outro tipo de poderes mais subtis e insidiosos comecem a cair nas ruas. Será que é isso que preocupa alguns?

In http://passapalavra.info/?p=40799